sábado, 1 de agosto de 2009

PAVOR (leitura feita por Lucineide)


Um beco sem saída,
sons aterrorizam,
se aproximam num barulho infernal.
Derrepente, longo silêncio.
Silêncio assustador, silêncio mortal.
A saída em uma ponte.
Escondida sob forte neblina.
Um clarão, um facho de luz,
derrepente se apaga.
Passos e passos se aceleram,
caminham homens apressados,
te seguem, te assustam, te atormentam.
Então, já sem saída,
escancara a pequena bocaque se abre num abismo profundo,
Arregala os olhos aflitos e...
Solta um tenebroso grito.

Sueli Rodrigues


A morte do boi

Numa manhã, ao lado do Mercado Municipal, na cidade de Carinhanha, extremo norte do estado da Bahia, às margens do Rio São Francisco, presenciei a cena brilhantemente iluminada pelo sol causticante do semi-árido sertão nordestino. No asfalto de paralelepípedo a quentura faiscava nas pedras. Ali iria ocorrer o abate de um boi. Essa imagem brutal ficou guardada na memória e registrado nesses rabiscos que agora transcrevo.
Assisti entorpecido o homem, de gestos secos e certeiros moldados a “arte” de matar, à sua função, atingir num só golpe a nuca do animal, a faca-peixeira de 24 polegadas, é tirada da bainha, afiada, capaz de cortar até o silêncio que se estanca diante a morte. Num movimento largo e com destreza fia o vinco na pedra mó.
Após o golpe, o boi desmorona no chão, mas estrebucha e tenta resistir, a respiração ofegante e os olhos arregalados, antes da paralisação derradeira, olhando o infinito que se esvai, ou para dentro de si, como se fora o espectador de sua própria morte. Aos poucos, perdendo as forças, mas o brio da vida ainda estava presente no corpo ferido, e num último ato de força e coragem tenta inutilmente se levantar. O homem se arma para o próximo ataque e agora, com a destreza do gesto definitivo, sangra a jugular do animal que não mais reage.
O sangue é amparado por um grande aguidal de barro. Como um exímio cirurgião, o homem inicia a operação de retalhar o couro, desnudando o corpo do boi, quando aparece, ainda quente a carne e seu tecido muscular à mostra e ainda trêmulo pelos espasmos dos nervos vivos e das veias mortas. É hora do esquartejamento. O machado de ferro para romper os ossos e a faca limada para manter o fio fino de navalha, a cabeça decepada se junta aos miúdos do corpo jogados em um canto. Os olhos continuam esbugalhados, observando suas próprias partes separadas da matéria, da vida. O ar impregnado do cheiro nauseabundo de sangue.
A faca afiada corta e recorta o boi em pedaços, em poucos minutos o corpo morto é apenas fragmentos, que serão expostos e vendido no próprio mercado e nas bancas da feira. Ali a compra é feita por peças, cada um da assistência já tem seu pedaço escolhido. Atando-o à ponta de um arame com uma espécie de gancho saem a puxar seu naco de carne pelas ruas da cidade, destino, à mistura do almoço.
É para isso que serve e deve se escrever. Para registrar o que um dia a memória pode vir a apagar. Seja relatando os esplendores da vida, como um botão de flor que se abre numa manhã orvalhada ou um “guarda-chuva vermelho que se abre numa tarde cinzenta de inverno”, seja delatando os estertores da morte, da vida, do homem, do boi.

Paulo Luís


O RETRATO


No alto, um traço
Repartindo
a consciência
A cabeça
e os cabelos
E cada parte
Do cabelo preto
Escorriam para trás
Frouxos, mas presos

A gola larga do casaco vermelho
Permitiam que se visse, de uma parte, o peito
Subindo, pelo pescoço, com um ar sereno
um rosto um pouco pálido
mas presente
E um olhar que encara
persistente.

Letícia Mendonça


Premonição

Esta pessoa de nome Armando é um ser muito especial em minha vida. Ele, de tão estimado me faltam palavras para demonstrar o tamanho de minha admiração e carinho.
(...)
O tio respondeu com seu jeito debochado:_ Lola, Eu fui viajar para o Nordeste. Bati com o caminhão no poste e tô de volta.Pode ser que alguém lendo essa estória, esteja pensando o porquê a minha mãe não sonhava com o primeiro prêmio da loteria federal em vez de tragédias. Pois é, ela sonhou, mas para o nosso azar não achamos o bilhete para comprar.

Solange Rossignoli